DEBATE
Pandemia, futebol e crime dominam atualidade
Junho de 2021
O quotidiano noticioso das crianças do 4º Ano da Escola Artur Alves Cardoso está claramente dominado pelas temáticas da saúde, do desporto e do crime. Essa é, pelo menos, a conclusão a retirar dos resultados da atividade “Quem quer ser cusco? – Vamos pesquisar notícias”, desenvolvida entre meados de maio e meados de junho, no âmbito da qual as crianças foram convidadas a pesquisar notícias, selecionar as que lhe chamavam mais a atenção e elaborar uma página de notícias, que serviu de apoio ao debate realizado em sala de aula.
Na área da saúde, independentemente das notícias que selecionaram, a pandemia COVID-19 dominou claramente a atenção das crianças, mais centradas na prevenção que na doença e suas consequências, pois destacaram sobretudo a vacinação e os sucessivos anúncios de abertura das inscrições por faixa etária.
À pergunta “Porque é que escolheste esta notícia?”, as respostas variaram entre “porque é sobre o nosso país...”, “…porque quero saber o que se passa atualmente, com a situação do Covid” e “…porque me preocupo com o que estamos a atravessar neste momento...”. E no debate que se seguiu, além de revelarem preocupação com o que marca a atualidade, referiram que a escolha também pode estar relacionada com o facto de serem diariamente serem bombardeados com ‘a mesma notícia”, o que consideram ser “grave” e “sério”.
A temática do desporto é completamente dominada pelo futebol. Ainda antes do Europeu de futebol começar, as notícias selecionadas centraram-se na final da Liga dos Campeões, no Porto, sendo depois voltadas para a concentração da seleção nacional de futebol, os treinos e os jogos de preparação. Associados ao futebol, estiveram outros acontecimentos que as crianças destacaram, como a agressão entre adeptos britânicos, no Porto, ou o caso da marquise da casa de Cristiano Ronaldo em Lisboa.
A terceira temática, o crime, está, por um lado, associado ao insólito (ex: “Mulher assassinada porque não serviu o jantar a horas”) ou a crianças e jovens (ex: “Jovem é atropelado e morre, quando estava a fugir de ‘bullies’”), sendo que as crianças associam muito este tipo de notícia às que viram na televisão, sendo referido frequentemente o canal CMTV. Já as notícias de desporto também se encontram em suportes tradicionais, pois “o avô vai à loja comprar o jornal”, mas a televisão é também muito referida, como acontece no caso das notícias relacionadas com saúde, ainda que seja um consumo mais frequente à hora de jantar.
A maior fonte de notícias, na opinião das crianças, é porém a Internet, independentemente das temáticas. Mas a dificuldade em compreender o que as notícias relatam é também transversal, o que foi evidente em alguns dos casos das notícias selecionadas, como por exemplo “Governo autoriza investimento de 3,1 milhões no Siresp, até ao fim de 2022”. O volume financeiro chamou-lhes a atenção, mas não conseguiram explicar a que fim era esse dinheiro destinado.
A dificuldade em compreender as notícias, que veio reforçar a necessidade de organizar este tipo de atividades, ficou clara no exemplo “Continente abriu a sua primeira loja sem pagar, em Portugal. É só pegar e sair”. As crianças não perceberam como funcionava o sistema, pelo que interpretaram o título no seu sentido literal, ou seja, que não era mesmo necessário pagar os produtos que estavam disponíveis naquela loja. A prova é que, quando compreenderam a notícia, reagiram como se tivessem sido enganados, uma vez que o dinheiro iria sair da conta, ou seja, ter-se-á sempre que pagar.
A apresentação das notícias serviu uma vez mais para se debater, em turma, a importância do querer saber mais. As crianças concluíram que devem questionar e pesquisar, devem procurar ir sempre mais além do que aquilo que lhes é dado. Referiram que o título serve apenas para atrair a atenção, pelo que é fundamental ler, ouvir ou ver as notícias até ao fim.